sábado, 11 de fevereiro de 2012

Não tem graça nenhuma chamar cabelo de bombril, Tatimidia

No dia 26/10/2011 eu assisti a reprise do programa Altas Horas e não consegui terminar de assistir o programa pois fiquei muito indignada com o quadro do humorista Rodrigo Sant'Anna:


No mesmo dia eu escrevi uma carta para Serginho Grosiman, que até hoje não me respondeu.
Hoje compartilho com vocês essa carta e o meu sentimento em relação ao que se tem chamado de "humor" na TV.

"Serginho Groisman,
Hoje, 26 de setembro de 2011, assisti a reprise do Altas Horas no Multishow, mas não consegui assistir ao programa todo depois de ver a performance do comediante Rodrigo Sant'Anna.
A tal performance, na qual Rodrigo Sant'Anna interpreta uma mulher pobre e negra que chega pedindo trocados, falando errado e ainda narra uma cena de enchente - tragédia vivida por muitas famílias pobres e negras - ele satiriza o cabelo das filhas da personagem confundindo-os com bombril e ainda descreve uma cena em que uma das filhas da personagem faz xixi no pé de alguém.
Gostaria de deixar bem claro que esse tipo de "humor" causa dor em muita gente e foi assim que eu me senti, pois essa cena remonta a minha infância na qual eu sofri muito bulling por causa do meu cabelo e estou certa de que muitas crianças negras ainda o sofrem. Esse tipo de racismo, praticado de maneira humorística, não deixa de ser racismo, não deixa de ser um ato violento e não deixa de atingir suas vítimas. O cabelo africano é esteticamente relacionado ao feio, à palha de aço a algo que deve ser "tratado" - como se fosse uma doença - para que ele fique liso e "belo", como muitas mulheres têm feito quando alisam e passa a tal chapinha para esticar os cabelos.
Tenho muito respeito pelo seu trabalho, que conheço desde o programa Matéria Prima da TV Cultura, e também creio que não tenha sido essa a sua intenção ao convidar o tal ator para o seu programa.
Também sei que a questão do combate ao bulling já foi tratada várias vezes em seu programa de maneira muito séria e profissional.
É por todos esses motivos que eu lhe escrevo para descrever o quanto essa cena me feriu a ponto de eu não conseguir nem terminar de assistir a tal performance e o restante da última edição do Altas Horas.
Eu sou jornalista e desde minha especialização em Mídia, Informação e Cultura - no Celacc/ECA/USP - venho pesquisando sobre a cultura afrobrasileira e a questão do racismo na mídia.
Sou uma mulher assumidamente negra - embora muitos me achem clarinha demais para tanto - e também assumo o meu cabelo natural, embora outros insistam que eu deveria alisá-lo com frases do tipo: "seu cabelo não é tão ruim assim, faça um tratamento que ele vai ficar liso e lindo".
Peço encarecidamente que a produção do programa encaminhe essa mensagem para você e que eu possa obter um retorno sobre suas considerações a respeito deste assunto.
Grata pela atenção,
Tatiana Cavalcante"

E você, o que acha dessa performance?

Um comentário:

  1. Oi Tati!
    Compartilho da mesma opinião, ser portadora de cabelos crespos e cacheados não é uma tarefa fácil. Muito desrespeito e preconceito, como se fosse errado, como se tivéssemos que faze-los ficar 'bonitos', como se o cabelo liso fosse diferente, mas não.
    E fazer 'humor' em cima dessa triste estereotipação não é nada engraçado, é covarde, sujo e digno de dó.
    Tenho muito orgulho dos meus cachinhos e não acho, nem de longe, que existe cabelo mais bonito e mais feio, pra mim existe o seu cabelo, que fica bem em você e pronto, seja ele liso, cacheado ou crespo. Bonito é você gostar e assumir o que você tem, por que aliás a beleza está nas diferenças né?
    Uma pena o Serginho não ter te respondido, ele é um comunicador e tanto ao meu ver e um ato assim vindo dele muito me pasma.

    Adorei seu blog e deixo aqui o endereço do meu caso se interesse em conhecer meus cachinhos http://www.poisonmakeup.com/ ;)
    Bju bju!

    ResponderExcluir